O NOVO NASCIMENTO
R. C. Sproul
Verdades essenciais da fé cristã; doutrinas básicas em linguagem simples e prática. v. 2 (São Paulo: Cultura Cristã, 1999), pp. 62-63.
Quando Jimmy Carter foi eleito presidente dos Estados Unidos, descreveu a si mesmo como um "cristão nascido de novo". Charles Colson, que fora o homem de confiança do presidente Nixon, escreveu um livro intitulado Born Again (Nascer de Novo), no qual descreveu sua própria experiência de conversão ao cristianismo. Desde que essas duas personaliddes famosas popularizaram a frase nascer de novo, ela tem se tornado parte do discurso moderno.
Descrever alguém como um cristão nascido de novo é, tecnicamente falando, cometer uma redundância. Não existe algo como um cristão não nascido de novo. Um cristão não regenerado (não nascido de novo) é uma contradição de termos. Semelhantemente, um não-cristão nascido de novo também é uma contradição.
Foi Jesus quem primeiro declarou que o novo nascimento, espiritual era uma absoluta necessidade para se entrar no Reino de Deus. Ele declarou a Nicodemos: "Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" (Jo. 3.3). A expressão, a menos que, no ensino de Jesus, sinaliza uma condição universalmente necessária para ver e entrar no Reino de Deus. O novo nascimento, portanto, é uma parte essencial do cristianismo; sem ele, é impossível a entrada no Reino de Deus.
Regeneração é o termo teológico usado para descrever o novo nascimento. Refere-se a uma nova geração, um novo gênesis, um novo princípio. É mais do que simplesmente "virar uma página"; marca o início de uma nova vida, numa pessoa radicalmente renovada. Pedro fala dos crentes que "fostes regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente" (I Pe.1.23).
A regeneração é obra do Espírito Santo naqueles que estão espiritualmente mortos (ver Ef. 2.1-10). O Espírito recria o coração humano, vivificando-o da morte espiritual para vida espiritual. Pessoas regeneradas são novas criaturas. Onde anteriormente não havia nenhuma disposição, inclinação ou desejo para com as coisas de Deus, agora estão dispostos e inclinados para com Deus. Na regeneração, Deus implanta um desejo por ele próprio no coração humano, que de outra forma não estaria lá.
A regeneração não deve ser confundida com a plena experiência de conversão. Assim como o nascimento é nossa iniciação, nossa primeira entrada na vida fora do ventre materno, assim nosso novo nascimento espiritual é o ponto de partida de nossa vida espiritual. Acontece pela iniciativa de Deus e é um ato soberano, imediato e instantâneo. A conscientização da nossa conversão pode ser gradual. Mesmo assim, o novo nascimento em si é instantâneo. Ninguém pode nascer de novo parcialmente, assim como uma mulher não pode ficar parcialmente grávida.
A regeneração não é o fruto ou o resultado de fé. Pelo contrário, a regeneração precede a fé, como a condição necessária para a fé. Também não temos em nós mesmos participação nenhuma na regeneração, ou seja, não cooperamos como colaboradores do Espírito Santo para que ela seja realizada. Não escolhemos ou decidimos ser regenerados. Deus decide nos regenerar antes mesmo decidirmos de abraçá-lo. Em suma, depois que somos regenerados pela graça soberana de Deus, decidimos agir, cooperar e crer em Cristo. Deus não exerce fé por nós. É por meio de nossa própria fé que somos justificados. O que Deus faz é nos injetar a vida espiritual, nos resgatando das trevas, da escravidão e da morte espiritual. Deus torna a fé possível e disponível a nós. Ele gera a fé em nosso interior.